CÂNTICO DOS CÂNTICOS
E na terra da verdade…
No futuro que restará, se algo não for feito? Uma imagem? Nem isso, talvez… A recordação da saudade de uma imagem. Não deixemos morrer os sonhos…Não deixemos que tudo passe, com a leveza de um perfuma que se evola…De um som que se cala… O Canto da Terra.
CÂNTICO DOS CÂNTICOS
E na terra da verdade…
Eu,
Rapariga de corpo de cipreste,
Não fantasma da noite mas africana,
Eu,
Que faço o sinal da cruz
Como todas as mãos do mundo,
Eu, que acarinho os meninos nus,
Vou contar
Sincera e apaixonada,
Porque m’orgulho de ser angolana,
Por ter nascido nesta terra de sol ardente,
Do germinal dum ventre ubérrimo
Da semente dum Povo de santos e de heróis.
Olhando o negro poço
Da vida que passou,
Tudo ouço, tudo alcanço.
Recordo o menino que nunca viu
O que era pão.
Menino que vivia chupando caju
Sorvendo água em seios mirrados.
Menino negro d’alma branca
Que corria entre moitas de capim
Que nem sei onde acabavam.
Menino que não corria
De sacola para a escola.
Menino de dentes de marfim
Escondendo no alvor do riso
Outra negridão maior: a solidão.
Menino sem ternuras
De fraca voz perdida
De prantos, de risos, ou coisa nenhuma.
Á beira do negro poço me debruço:
E nele, vejo um Povo que não se curva…
Um misto de amor e ódio…
Um menino que é negro, mas que renasce.
Uma terra algemada que se liberta.
E eu, rapariga de corpo de cipreste
Fruto desta terra abençoada, Sou aquilo que sou:
Um punhado desta terra a que m’inclino, submissa,
E sinto em cada odor que aspiro.
VERA LUCIA
O VENTO
Quando em meu frio leito
Recordo com deleite
Os passos da minha vida,
O vento que bate
Nas paredes corroídas
Pede também guarida
No meu louco coração.
Num triste lamento
Que sai da imensidão
Do negro firmamento
De manso vem surgindo…
Depois, negado o refúgio pedido,
Segue rugindo, increspando o mar
Em vagas alterosas,
Rompendo o ar
Em brisas furiosas.
E a noite serena,
Acorda perene…
Esconde-se a lua,
Fogem as estrelas,
O céu se turva
Ao vento que passa,
Que mata o tempo
Que apaga a vida
E tenta, em vão,
Parar o meu coração.
Vera Lúcia
AOS COMBATENTES DE TODO O MUNDO
Àqueles
Cujos olhos se erguem confiantes fitando sem medo
Os reinos distantes da morte,
Eu venho…Com a aurora esperançosa
Dos meus olhos luminosos de crente
Envolvê-los
Em mantos radiosos de amor.
Àqueles
De cujo peito uma onda de amargor
Se espalha cruelmente,
Àqueles
Que procuram paz
Através de nuvens de pó e trevas
Levantando as mãos aos céus
Numa prece a um Deus, seja ele qual fôr,
Eu dou os meus sonhos:
Todo um bosque em flor.
Àqueles
Que são menos do que ovelhas
Seguindo sem pastor,
Que estão sentados
Mirando o ar sem fazer nada,
Como sacerdotes a recordar
O drama da redenção.
Àqueles que têm coração,
Têm olhos florescendo
Como um garoto
E lábios trementes
A ensaiar
Um sorriso esperançoso,
Eu dou a minha alma,
Aberta como os pórticos duma catedral,
Onde vós todos, homens,
Amados e não amados,
Conhecidos, desconhecidos,
Desfilareis cantando,
Bandeiras multicores
Passando lado a lado,
Brilhando sob as cores de mil arco-íris diferentes,
Jogando fora as cargas dos canhões,
No olhar levando a alegria duma aurora,
Cabeças erguidas de entusiasmo e orgulho,
Sãos e salvos
Na senda dos vossos lares.
Vera Lúcia
P.S.-Poema inspirado num cenário de guerra.
APOCALIPSE
…E verás o mar erguer-se
Em calemas insanas, em marés de equinócio.
…E verás os ventos loucos surgirem
Queimando as últimas flores da tua esperança.
…E ficarás sozinha sentindo a ânsia de fugir, correr…correr…
Deixar para trás os teus desejos
E esquecer tua alma saqueada.
…E eis que passarás, entristecida
Contemplando os rios que secaram com lágrimas brotando
Do teu coração.
Porque o presente será a porta que nunca p’ra ti se abrirá.
…E virão pássaros agourentos pela escuridão sem fim,
Pássaros que poisarão olhando para ti
Aguardando a tua morte.
…E o vento te trará canções de saudade,
De amores enfeitiçados.
…E verás tudo e tudo passará.
Passarão Outonos e primaveras
E dias e noites de agonia.
Quedas dolorosas no passado
E voos quebrados no futuro.
Como uma náufraga lutarás p’ra te afundares
No mar sem ondas do esquecimento.
…E voltarás à tona, saindo das entranhas do olvido.
Jamais deixarás de ser escrava...
Escrava sem visíveis grilhões…
Apenas serás livre na hora em que a tua estrela
Brilhar, pela última vez,
Na noite da eternidade.
Vera Lucia
DESEJO FINAL
Quando eu morrer
Não quero rosas,
Não quero prantos.
Quero flores de buganvílias rubras,
De ouro e sangue…
Quero ventos…
Os que mordem as areias do deserto…
Os que curvam os corpos dos coqueiros desgrenhados,
Arrojados para o azul.
Sim…
Quando eu morrer,
Não quero rosas,
Não quero prantos.
Quero o ressoar dos tambores
Atroando os ares…
Ran-tan-tan-tan-ran …
Quero o óleo doce do denden…
Quero tudo …tudo da terra…
Que m’importam rosas?
Que m’importam cantos?
Quero beber as ondas do mar…
O marufo ardente…
Quero sentir o tumulto da terra
A alegria do Povo…
Por isso tragam-me tudo…
Para ter a ilusão,
De ainda viver.
Vera Lúcia
A PARTIDA
Em breve minha nau
LIVRE
Ser livre…
Deixar para trás os meus desejos
E todos estes loucos preconceitos
E partir,
Partir e ter o ensejo
De ser aquilo que não sou
E que sempre ansiei ser.
Poder caminhar sem um destino
Como errante, pobre peregrino
Tendo apenas como amigas as estrelas,
Contando os meus sonhos só a elas.
Misturar-me com os negros nas sanzalas
Comendo sem rodeios do seu pão,
Ver dançar as chamas das fogueiras
E dormir na dureza duma esteira.
Poder saber por onde vou
E marcar a cada hora o meu dia
Sem sentir a cada passo o grilhão
De se seguir apenas a razão.
Poder provar de cada fruto
Que encontrasse nascendo nos pomares
E poder misturar-me com os miúdos
Descalços, livres, vagabundos,
Que vagueiam às portas dos casais
Sem vãos temores e sem barreiras.
Por este vida simples mas verdadeira,
Eu daria a minha vida só de incertezas
E todos os meus sonhos de grandeza.
Vera Lúcia
Saudade
Eu sou aquela que todos temem e conhecem
Sou aquela, que em noites quentes rescendendo a jasmim
Vem com ironia, como espectro itinerante
Olhar as ruas… o vosso sono.
Sou aquela que a dor consola
Embora surja como etéreo vapor que o sol dissolve.
Sou a chuva gélida que amarga a alma
A princesa que na vossa carne mora.
A tecedeira de níveas mãos que vos envolve numa neblina
Que nenhum de vós discerne.
Sou a sombra,
O calmo incenso que vos adormenta.
Sou a que fere sem feridas nem sangue,
A escrava de rara humildade
Que sem palavras, sem zangas,
Se torna rainha.
Sou a flor sem pétalas, de mágico odor
Nascida do nada, só feita de dor...
Eu…eu sou a saudade .
Vera Lúcia
AMOR SACRÍLEGO
Há a sombra triste dum amor imenso.
Imenso mas cruel por ter deixado
O perfume doce do seu incenso.
Amei-o, sim, em doce chama
Meu coração de menina lhe concedi.
Perdi a fé, a paz, perdi a alma,
E era um sacrilégio amar assim.
Era um sacrilégio, mas no seu todo,
Nosso amor era um raro sortilégio…
Criamo-lo neve e era lodo,
Criamo-lo santo e era sacrilégio.
Esse amor, esse amor, foi todo meu.
Em mim, seus laços ficaram impressos.
Nosso amor era luz e era sombra
E eram prantos e risos os nossos beijos.
E foi um sacrilégio e foi loucura
Foi loucura de amor, foi um lamento,
Como um hino imenso de amargura
Como um imenso, lento tormento.
A casa da minha infância,
Era real, era verdade?
Tinha flores, tinha alegria,
Sem sombra de dor ou saudade.
E meu vestido branco
Como açucenas mimosas?
Onde estará?
Em farrapos pelos caminhos?
Nas silvas? Nos espinhos das rosas?
(Qu'importa agora sabê-lo?)
Foi pena, Senhor, foi pena,
Que tudo, tudo se fosse.
A ribeirinha perdida
Bem longe, lá na distância,
Onde meu corpo boiava
Como airosa caravela,
Cabelos soltos ao vento,
Olhos negros, anciosos,
Numa busca esperançosa.
(Silêncio à minha volta
Na noite agreste e fria.
Silêncio de ventos gemendo
De folhas soltas, errantes,
De doce aroma de rosas,
De árvores, de galopadas,
Em asas desdobradas
Voando sem direcção).
Tenho medo de querer,
De querer e não ser capaz.
De saltar esta barreira
Para o tempo imaginário,
Em que chorava, gritava,
Por não poder ser rapaz.
De ter que ser menina fina,
De andar amortalhada
Em laços, rendas e sedas,
Cabelos rebeldes, entrançados,
De ouvir a toda a hora:
-Tens que ser uma senhora!
Porquê, minha mãe?
Que foi feito da minha trança?
Do velho pomar
Onde corria provando de cada fruto,
Cheirando todas as flores?
Dos meus bibes de menina
Sujos, rasgados,
Nos ninhos, nos valados?
Ah! Que ânsia, que sede,
De encontrar, enfim,
O meu jardim encantado,
O jardim da minha infância
Perdido para sempre no passado,
Tão distante, mas tão perto!
(Donde vem esta canção
De m'embalar?
Como prender cada nota que escuto
E se afasta de mim,
Como onda a soluçar?
Porque razão a vida mudou?
E se mudou, se tudo passou,
Porque não poder esquecer?
Porque não secar este pranto
E não mais ouvir o canto
Que s'introduz pela alma
Como raios finos de lua,
A amargar, amargar?)
Magoa-me o som desta lembrança
Como um lamento,
Como o vento,
Como uma ária de dor
De ânsia, de amor e saudade?
Oh! Minha mãe,
Que voltas a horas mortas
No silêncio da noite escura
Com passos feitos de lua
Com mãos suaves de flor
Em vestes brancas, aladas,
Em horas de nostalgia.
Nada dizes, nada perguntas,
Mas és tu, minha mãe,
Meu passado já perdido,
Encontrado, reencontrado
(Será isto uma ilusão?
Tudo ouço, tudo escuto:
O canto frio do mar,
O ciciar da floresta,
O sono puro das flores,
O vento das colinas,
A chuva a tamborilar,
A vida de cada hora...
Será isto uma ilusão?)
Oh! Minha mãe, minha mãe...
Lembras-te?
Uma noite, altas horas,
Acordei sobressaltada.
Era um choro à janela
Era o uivo dos chacais
E do vento, misturados.
Lá fui descalça, chorando,
Correndo apavorada,
Em busca dos braços teus,
Que dissipavam as sombras,
O vento, as trevas, os lobos,
Os duendes encantados.
Agora, embora o medo me volte,
Noite a noite, à porfia,
Sem entender a razão,
Levanto-me a horas mortas,
Descalça, apavorada,
Sem encontrar tua mão.
(Chove dentro de mim.
Pressinto-te em meu redor,
A flutuar,
E tenho de fugir,
Saltar o muro,
E correr, correr, sem nunca olhar para trás,
Como fera acossada,
P'ra não te ver, minha mãe,
Com cravos, lírios e rosas,
Dormindo, sem amargura,
Com velas acesas
A rebrilharem nos teus olhos
Na boca cerrada, mas firme
Como se a vida não te tivesse vencido,
Como se tudo valesse a pena
Os risos, as dores,
Os espinhos, as flores.
Para onde irias? Por onde?
( Ah! Sei, enfim, Que brilhas numa estrela:
Na maior, na mais bela: na minha estrela,)
...................
A lua apareceu.
Um raio de luar aquece-me o coração.
Estarei a sonhar?
Por um caminho d'ouro,
Entre nuvens cor de rosa,
Apareces, radiosa.
Ondas de luz, chuva d'estrelas,
Embriagam-me os olhos,
Há pétalas de flores desfolhadas,
Há perfumes, e hinos, cantos de anjos e arcanjos.
Vens de leve, devagar, a estender-me os braços
Feliz e sem idade,
Sem sombra d'alguma saudade
Nos teus olhos deslumbrados.
Tomas-me a mão e partimos,
Entre nuvens de arminho
Plumas de neve.
Sou novamente menina
A galopar, galopar,
No meu cavalo de pau, no meu cavalo de sol.
Sou novamente um anjo!
Um anjo de belas asas,
Pesadas, mal pintadas,
Mas que me fazem cantar,
Porque as perdi, procurei
E voltei a encontrar.
E corro, toco na lua,
Pego com geito em estrelas,
Que se desfazem em pó,
Em nuvens de ouro e de luz.
E lá vou subindo, galopando,
No meu cavalo de fogo, rumo ao sol,
Entre grinaldas de flores,
O coração a palpitar,
De rosas brancas nas mãos.
.............................
Onde estou?
Aqui, onde não estou,
À espera dum amanhã,
A recordar ,
Num tempo sem horas, sem fim,
Num sonho feito de dor,
Que eu não quero sonhar,
Num sono de fumo e esperança,
De que não quero acordar.
Vera Lúcia
Tempo.Porém, de todo o tempo, esse perdido
Tempo.O oco tempo.O tempo obscuro, o vago
Tempo,sem datas,factos ou presenças.
Tempo sem saibro,cor,odor e som.
Tempo sem quê,nem para quê…
Tempo ténue,impalpável,
Tempo sòmente,o puro
Tempo,o tempo esquivo,
Tempo insuspeito
Tempo isento…
Tempo
Tem
Pó.
Só
Não tem
Pó o Tempo
Que mais que Tempo
Não foi…Mais que Tempo
Não será, nem é… Tempo
Em que nunca fomos… Tempo
Escuso, onde, inconscientes do Tempo
Somos matéria inerte, em que o Tempo
Efémeras imagens molda… Tempo
Insubstancial e que, como todo o Tempo
Se vai, mas sem deixar a amargura do Tempo.
MINHA BUSCA VÃ
Ao rouxinol que canta
Na noite que vai caindo
Marcado de triste dor,
Às nuvens que vão subindo
Em matizes d’esplendor,
Eu peço notícias de ti.
Ao vento que vai passando
À brisa que vem chegando,
Ao odor do mar e da flor,
Ao canto das praias varridas
Pelas ondas irritadas,
Eu peço notícias de ti.
ÀS gaivotas que vão deixando
Pelo ar, um risco branco,
Ao rumor leve dos búzios,
Às mil e uma coisas da terra,
Eu peço notícias de ti.
Aos homens que vem chegando,
Aos barcos, às fontes, aos rios,
Às estrelas que vão brilhando
Em risos, em frio desdém,
Eu peço notícias de ti.
Ninguém mas dá…
Só a chuva, sobre mim em pranto se cerra…
Há silêncio em toda a terra
Silêncio seco e ruim
De ventos vergando ramos
Como se dentro de mim
O mesmo silêncio se vaze.
Não há notícias de ti…
E neste anseio cansado
Nesta pergunta tão vã,
Apenas queria, vê lá,
Ser nuvem, ser ave, ter asas,
Ter algo mais do que sonhos,
Do que cantos, do que versos,
P’ra que pudesse voar
E poder assim saber,
Algo de ti, meu amor.
Vera Lúcia
A ESTRELA
Um dia
Uma estrela enorme
Misteriosa
Que cintilava nos céus,
Chegou-se a Jesus
E falou:
-Senhor, estou cansada de ser estrela!
Quero ser gente, quero ser mundo,
Quero um destino diferente!
E Jesus, olhos cerúleos,
Respondeu-lhe:
-Louca ambiciosa!
Cega, que dás luz e nada vês!
Olha! Olha a realidade!
E medita! Medita profundamente!
......................................
E a estrela descontente,
Ficou-se a cintilar
Na noite de luar.
..........................................
Caía neve na terra.
Pela estrada fóra
Um grupo de crianças
Seguia sempre a andar.
Fugiam da guerra e da fome.
Não tinham lar.
Andavam, sem direcção,
Em busca d’algum lugar
Onde houvesse paz.
Não tinham pão
Mas tinham fé.
E só a estrada,
Só a neve,
Em busca da direcção…
Paravam, inquietos,
Olhando o ar, depois,
Novamente a caminhar!
Rostinhos tristes,
Mortos de fome,
Andavam…andavam…
Sem achar nenhum lugar.
E ao frio intenso
Não há florinha que resista…
..................................................
E na escuridão da noite fria
A estrela cintilante
Olhou…tremeu…
E chorou, silenciosa.
..............................................
Devagar, cansada,
Passa uma mulher esfarrapada.
Vem de longe, com seu menino nos braços,
Seios mirrados, sem leite,
Olhos chorando mágoa
Por essa criança esfaimada
Que lh’irá morrer nos braços
Como uma ave implumada.
Mas não há porta que se abra
À miséria que vai passando.
......................................................
E na noite fria,
A estrela cintilante
Olhou…tremeu…
E chorou silenciosa.
.................................................
Nevoeiro.
A obscuridade do dia
Estendeu véus negros sobre o céu.
E a terra é um vulcão
De sangue e fogo.
Tudo de luto:
Árvores…nuvens…pássaros…
Já não havia vida, já não havia mundo!
Não havia ruas, não havia casas,
Não havia homens! Só morte! Morte!
E no silêncio quebrado da noite,
Gritos e choros, chamas, gemidos,
E lamentos de crianças,
Correndo…correndo…
Sobre mortos queimados.
E soldados avançando, recuando,
Lutando, matando, morrendo.
Não mais flores de primavera,
Sorrisos de crianças,
Larangeiras floridas.
Não mais amor de jovens,
Amor de pátria,
Gente fazendo o sinal da cruz,
Homens cavando a terra…
Não mais vozes de rios
Levando barcos, lenços brancos a acenar,
Contos de fadas contados ao brasido
Por avózinhos cansados.
Não mais saúde, alegria, sonhos e ilusões.
Só luto e morte, maldições e agonia.
........................................................
E na noite fria,
A estrela brilhante
Olhou…tremeu…chorou…
E quedou-se a cintilar…
Vera Lúcia
NADA
Estarei a pensar no Nada.
Nada: O absolutismo total, o esquecimento,
O vazio, o coisa nenhuma.
Nada: O ponto de partida e de chegada.
Nada: A interrogação, a resposta, a negação.
Nada: A crença, o cepticismo.
Nada: Aquilo que fomos, que somos, que seremos.
Nada: O gostar, o desprezar, o odiar.
Nada: A centelha fugaz da vida,
A eternidade real da morte.
Nada: O sonho, a realidade, o sobreviver.
Nada: Nós…Átomos perdidos do Nada
Na busca incessante do Nada.
P.S. Escrito por nada, num dia sem nada.
Vera Lúcia
CÂNTICO NEGRO
"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide!
Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!
José Régio
RECORDANDO EDMUNDO LYS
Não podia manter este blog sem expressar aqui a minha gratidão ao poeta brasileiro Edmundo Lys, meu mentor e amigo que só a guerra em Angola conseguiu afastar.
Estou certa que onde quer que esteja, continua a seguir os meus passos literários, com a mesma atenção que me dispensou nas minhas primeiras etapas.
Até sempre…
João Batista do Lago, articulista polémico,poeta e escritor, nasceu no Maranhão e afirma que é "filho dos mangues, nasci das entranhas das gangues, feitas de vermes cagados..." Considerado actualmente como um dos maiores poetas e cronistas do Brasil, é, sem sombra de dúvida, uma das maiores expressões literárias do mundo moderno. Provocante, por vezes mordaz, tão depressa nos choca com a contundência das suas palavras como nos faz chegar à fronteira das lágrimas com a saudade, a subtileza e paixão avassaladora que deixa transparecer naquilo que escreve. Um João Batista do Lago, para o ouro "eu", o João Poeta do Brasil. Nenhum
amante da boa leitura pode dispensar a sua presença na sua biblioteca. ''Eu, pescador de ilusões'', "Aporo" e tantas outros são obras que ficarão para a posteridade.
J.B. Vidal (João Bosco Vidal) nasceu em Bagé (RS) em meados do século passado, onde imagina que foi alfabetizado e “pensa ter aprendido a ler o horizonte dentro de si mesmo”. Negou-se a fornecer seus dados biográficos porque afirma conhecer-se “por ouvir dizer.
Sabemos que participou da antologia com poetas do sul PRÓXIMAS PALAVRAS (editora Quem de Direito) e anuncia para este ano o livro OFERTÓRIO.
Partiste Che Guevara…
Hoje, tantos do tal, olho a vida que trilhaste e não vejo nada.
Nem liberdade…Nem paz… Nem igualdade…
Que foi feito dos teus ideais?
Quem levantou estas barreiras?
É tempo d'esperança companheiros!
Lá fora o Mundo espera por nós.
Caminhemos!!!
21 comentários:
Esta mensagem não tinha nenhum comentário ! Achei que isso não era justo. Então, resolvi mandar um beijo...semi-anónimo.
Adorei estes livros de aventuras juvenis. Fizeram-me retornar à infância. Achei fantásticas as ideias loucas dos Primos para resolver o caso do roubo do diamante. Também achei interessante a personagem daquele incendiário tenebroso, com tanta loucura e magia demoníaca dentro de si, e que tanto trabalho deu aos Primos!... .
Achei O Quadro Misterioso e o Enigma da Aldeia das Broas duas histórias capazes de povoar de emoções o imaginário de qualquer jovem. Seria bom ver publicados excertos destes livros que, com toda a certeza, iriam deliciar os leitores.
Foi muito bom ter encontrado este blog e poder ler poemas de Vera Lúcia, poetisa cujo trabalho desconhecia em absoluto. Uma surpresa agradabilíssima.
Parabéns.
Florinda, minha amiga,
Permita-me esta liberdade de a tratar assim! Mas não é fácil
compartilhar bocadinhos da nossa alma com o mundo que desconhecemos. O facto de ter encontrado alguém que comunga connosco as nossas ideias e pensamentos é tão bom que nunca mais vou desistir de o fazer. E tenho ainda tanta coisa para dizer...Obrigado pelas suas palavras.Permita que a abrace.
Parabéns Vera Lúcia.
Angola orgulha-se de si !
Amiga Bia
Fiquei muito sensibilizada com a sua mensagem.Sim...Eu também gostaria que Angola se orgulhasse de mim, pois todos os passos que tenho dado na minha vida, é sempre com o pensamento em Angola e nos meus irmãos angolanos
que estão sempre no meu coração.Espero um dia fazer parte da família dos escritores angolanos.
Mais uma vez obrigado.
Amiga Vera,
tenho atentamente acompanhado o seu blog mas só agora tive a oportunidade de lhe escrever para lhe transmitir o quanto gosto da sua escrita..é das poucas pessoas que ainda sente a poesia e consegue transmiti-la através dos seus poemas.
Os meus mais sinceros parabéns!!
José Vasconcelos
Caro Amigo
Permita que o trate assim. Na verdade, considero todos aqueles que conseguem captar a mensagem que tento passar através da minha poesia, meus amigos. Fazem parte, como eu, duma família que passa a sua vida num "andar de estrela para estrela".Não é bom termos todo o espaço, para as nossas viagens, muitas vezes solitárias, mas sempre gratificantes?
Obrigado pelas suas palavras.
Obrigado pela visita. Gostaria de ler seu poema "Contratados"
abracos
Namibiano
Caro Namibiano,
Retribuo os agradecimentos. Se quizer voltar ao meu blogue, ao fundo, a seguir à foto da "Casa do Vento que soa" encontrará os "Contratados". Como já disse, este blogue está a ser reestruturado e faltam outros trabalhos de amigos que resolveram participar, entre eles o Namibiano.
Abração
Vera Lucia
MAIS UMA VEZ VIM DAR UMA OLHADA AO SEU BLOG E TIVE NOVAMENTE O PRAZER DE LER DOIS LINDOS POEMAS,QUE ME TRANSMITIRAM UMA SÉRIE DE SENTIMENTOS BONS,LIBERDADE,AMOE E ESPERANÇA...ERA BOM QUE OS HOMENS NÃO PERDESSEM ESTES VALORES.DESEJO-LHE UM FELIZ ANO 2009
Feliz por conhecê-la!
Parabéns pelo blogue.
Ana
Obrigado pelas suas palavras. Gostava de receber mais mensagens como a sua, que foi receptiva à
minha, uma prece à paz e à esperança.
Bjs.
Amigo,
Uma mensagem curta, mas que me diz muito. Espero manter o seu interesse no meu blogue. Colabore connosco, mande-nos trabalhos. Todos, nunca seremos muito.
Um abraço do tamanho do mundo.
Adorei esse seu blog!
As poesias são lindas,Vera!
Bjs
Yara
Oi Vera. Retornando ao teu blog para dizer que ficou muito bonito. Azul como o céu...
Eu pensava que você fosse bem mais velha. Que surpresa agradável, menina. Você é linda e teus poemas são maravilhosos, especialmente o Cantico e a rua 13. Parabéns.
Seu blog está cada vez mais lindo, linda.
Aqui no Brasil se diz: "Aí sim, fui surpreendido novamente!"
Cântico dos Cânticos é, indubitavelmente, uma preciosidade sem par.
Querida Mãe,continuo a adorar ver o seu blog...os seus poemas repletos de emoções,sentimentos contidos ou não....continue a ser a Mulher,Mãe especial que é . A transmitir e dar a conhecer a sua poesia ,os seus textos ,os seus tão belos comentários...imagens,músicas...
Deixe-nos sonhar,reflectir ao deambularmos por este blog.
E não se esqueça que o sonho comanda a vida.
Sónia
Queremos viver, simplesmente, em toda sua plenitude, não é Vera Lúcia?
ernanu aticappOlá querida Vera.
Pois é. Como gostaria de estar vivendo de verdade, também fora de mim...Para assim poder estar lá e também cá.
Usufruir, acalentar, cheirar e viver abrangendo todo o Universo.
Bjs em teu coração
Nadilce Beatriz (Nadi)
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